Ensino técnico precisa considerar demandas dos jovens e não apenas das empresas
Na visão de pesquisador, Pronatec e outras iniciativas do governo federal são positivas, mas é preciso garantir qualidade de cursos privados e atentar para autonimia do Sistema.
Publicado em 12/11/2011, 11:45
Segundo ele, apenas metade dos jovens entre 15 e 17 anos estão na série adequada à idade no ensino médio. O cenário em relação à educação ainda inclui alta evasão e a repetência crescendo para 22%. Ao mesmo tempo, o número de matrículas estacionou nos últimos anos, sem conseguir trazer pessoas negras e indígenas nessa faixa etária. Quase metade deles estuda à noite e, apesar do conjunto de redes de programas de qualificação profissional existentes, 60% dos cursos são pagos pelo estudante, conforme dados oficiais.
Informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) citados por Grabowski indicam que mais da metade dos jovens que fazem parte da população economicamente ativa não estudam e um grande número trabalha sem carteira assinada. Isso agrava o fato de a remuneração média ser de um salário mínimo e de a maioria dos pobres ter menos acesso ao trabalho. "É preciso conhecer o perfil do jovem, saber o que ele pensa e o que quer para então se formular políticas e programas. Não é só a demanda da indústria e do comércio que deve ser ouvida”, apontou.
Na avaliação de Grabowski, a qualidade na formação técnica brasileira é heterogênea devido a disparidades entre as redes federal, estadual, municipal e privada. E também pelo fato de esse segmento não ter um mecanismo para o seu financiamento e depender de programas de governo.
Ele elogia o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), sancionado em outubro pela presidenta Dilma Rousseff, nos moldes do Universidade para Todos. O programa oferece bolsas para cursos de educação profissional. Grybowski considera importante, em especial, a opção de se vincular a capacitação ao seguro desemprego – a União condiciona a concessão do seguro desemprego à frequência a um curso profissionalizante.
Ele teme, porém, que este se torne apenas mais um programa de governo para o segmento ou que se transforme em balcão de negócios, ao oferecer espaço para a ampliação da oferta de vagas de instituições privadas. O pesquisador ainda vê riscos no grau de autonomia concedido ao Sistema S, que inclui o serviço nacionais de aprendizagem industrial e do comércio – Senai e Senac.
"É preciso aprimorar a gestão do Sistema S, dando mais transparência, e zelar pela qualidade da educação profissionalizante a das instituições privadas que, hegemônicas, são desconectadas da educação básica", alerta.
Para ele, o caminho é a desconstrução da relação entre educação, educação profissional e desenvolvimento até hoje dominante. Essa concepção é colonizadora, subserviente e alienante, na visão do analista. Em seu lugar, o país necessita de uma que seja encarada como direito de todos e condição da cidadania e da democracia, atrelada ao ensino básico. Seria importante ainda que se articulassem cultura, conhecimento, tecnologia e trabalho, com "geração de renda" para evitar que o jovem "busque renda em outro lugar".
"A maioria (dos pobres) não é pobre porque não conseguiu boa educação, mas, na realidade, não conseguiu boa educação porque é pobre", disse. "O grande desafio do século 21 é a capacidade social do acesso democrático ao que é produzido, ao contrário das teses de controle do mercado."
Ampliação
O seminário foi aberto pelo ministro da Educação Fernando Haddad. Ele lembrou a história do ensino profissionalizante no país e destacou as principais iniciativas do governo federal no setor, como a ampliação da rede nos oito anos de governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que levou escolas e institutos de tecnologia para cidades do interior do país que até então não contavam com nenhuma unidade. Celebrou ainda o próprio Pronatec, a bolsa-formação e outras iniciativas.Participaram ainda representantes da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do estado de São Paulo, do Senai, do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural, que apresentaram seus programas de capacitação, e do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Fonte: http://www.redebrasilatual.com.br/temas/educacao/2011/11/formacao-profissional-deve-considerar-demandas-dos-jovens-e-nao-apenas-das-empresas-1
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