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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mais foco nas crianças

 

Mais foco nas crianças

Especialistas de diversas áreas analisam políticas e estudos, nacionais e internacionais, sobre educação. Os resultados, reunidos em livro, apontam a necessidade de mais investimentos, em idade mais precoce e em locais menos favorecidos.

Por: Luís Amorim
Publicado em 03/11/2011 | Atualizado em 03/11/2011

Cinco anos de trabalho do grupo criado pela ABC para avaliar a educação infantil mostram que o Brasil, apesar de alguns avanços, ainda tem muitos desafios. Coordenador destaca a necessidade de interação entre ensino e saúde. (foto: Ivan Prole/ sxc.hu) Como diz o chavão, as crianças são o futuro do país. Mas, para que esse futuro seja o mais promissor possível, deve se investir o quanto antes nelas. É o que afirma o economista Aloísio Araújo, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Araújo é o coordenador do recém-lançado livro Aprendizagem infantil: uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva, que traz as conclusões de cinco anos de análises do Grupo de Trabalho sobre Educação Infantil, criado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 2007.
Integrado por especialistas em aprendizagem de diferentes áreas, o grupo analisou políticas específicas e estudos internacionais de países como França, Inglaterra, Cuba, Estados Unidos, Austrália e Israel, além de trabalhos nacionais sobre o tema.

Araújo: a taxa de retorno para investimentos feitos em crianças de 3 a 4 anos seria de 17% ao ano
Um dos principais pontos defendidos pelo economista à luz dos resultados da análise é a necessidade de políticas públicas focadas em crianças pequenas. “Estudos longitudinais feitos por economistas que acompanharam indivíduos desde a idade pré-escolar mostram um rendimento muito superior em diversos campos das crianças submetidas a mais estímulos”, explica.

Segundo Araújo, a taxa de retorno para investimentos feitos em crianças de 3 a 4 anos seria de 17% ao ano. O pesquisador acrescenta que a análise do grupo feita a partir de estudos de neurociência e psicologia cognitiva explicam os dados obtidos pelos economistas. “Durante a vida, o cérebro apresenta certas janelas de oportunidades que devem ser aproveitadas desde cedo, porque a recuperação posterior é muito mais difícil; a escola não consegue cumprir o papel de repor esse tempo perdido”, diz.

Creches de qualidade

Uma das recomendações dos especialistas é a construção de creches de alta qualidade em regiões de baixo desempenho escolar. Segundo Araújo, estudos mostram que há uma correlação direta entre o nível educacional da mãe e o desenvolvimento da criança.
“Quanto maior o vocabulário utilizado pela mãe, melhor tende a ser a aprendizagem da fonética pela criança. Essas e outras diferenças que vêm do seio familiar persistem em longo prazo na trajetória educacional da criança”, explica.

Capa 'Aprendizagem infantil', da ABC

Para reverter esse círculo vicioso, que ajudaria a perpetuar a condição de pobreza e baixo rendimento educacional, os especialistas defendem no livro mais investimentos em educação de qualidade, em idade mais precoce e em locais menos favorecidos.

O economista ressalta, porém, que os espaços para a educação pré-escolar devem ser fruto de políticas públicas bem elaboradas. “Creches não podem ser depósito de criança, precisam ter qualidade, ou não terão o resultado esperado”, argumenta Araújo. “Um dos artigos do livro mostra, com estudos econométricos, que creches de baixa qualidade não têm um papel significativo na melhoria do rendimento posterior de seus alunos.”

Educação e saúde

Apesar de questionar sua ainda incipiente qualidade, Araújo elogia a universalização do ensino no país e o aumento da cobertura escolar de 6 a 17 anos. No entanto, ele enxerga uma outra dimensão em relação à educação na qual o país ainda não tem caminhado: a sua interação com a saúde da população e, especialmente, a das crianças.

“O processo de estímulos às crianças deve começar aos seis meses antes do nascimento”
“O processo de estímulos às crianças deve começar aos seis meses antes do nascimento. Cuba tem uma performance educacional muito superior em testes internacionais de educação – muito à frente do Brasil e de outros países desenvolvidos – porque decidiu que deveria lutar contra a mortalidade infantil e incorporar o desenvolvimento cognitivo das crianças ao atendimento do sistema de saúde, relacionando saúde e educação.”

O economista acredita que o Brasil deveria caminhar mais nesse sentido. “Apesar de termos experiências em algumas cidades, essas iniciativas são ainda extremamente tímidas em nível nacional”, lamenta.

Luís AmorimEspecial para a CH On-line/ RJ


Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br/alo-professor/intervalo/2011/11/mais-foco-nas-criancas

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