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terça-feira, 21 de setembro de 2010

PRODUÇÃO INDUSTRIAL EM PEQUENAS CIDADES E REINSERÇÃO

PRODUÇÃO INDUSTRIAL EM PEQUENAS CIDADES E REINSERÇÃO
NA REDE URBANA: O CASO DE ASSAI - PR

Adriano Pereira de Almeida
Mestrando em Geografia: Dinâmica Espaço Ambiental
Universidade Estadual de Londrina – UEL / PR
adrianopereirageo@hotmail.com

Tânia Maria Fresca
Orientadora e Professora do Dep. De Geografia e colaboradora
Mestrando em Geografia: Dinâmica Espaço Ambiental
Universidade Estadual de Londrina – UEL / PR
fresca@uel.br


Resumo

O presente trabalho busca entender a dinâmica de Assaí, uma pequena cidade localizada no norte do Paraná e atualmente vem apresentando uma especialização industrial no ramo metal-mecânico. Tal dinâmica tem criado na cidade uma elevada geração de empregos, salários e arrecadação de tributos, a intensificação e especialização da oferta de bens e serviços e o aumento de sua centralidade, reinserindo-a de forma diferenciada na rede urbana do Norte do Paraná.

Palavras chave: Rede urbana, pequenas cidades, Assaí, indústria metal-mecânica.




INDUSTRIAL PRODUCTION IN SMALL CITIES AND RE-INSERTIONS IN THE URBAN NETWORK: THE CASE OF ASSAÍ-PR


Abstract

The present study intents to understand the dynamics of Assai, a small city at the northern of Paraná which currently is showing an industrial specialization in the metal-mechanic industry. This dynamic has created in the city a high job offer, payments and tributes collection, the increased and specialization of goods and services and increase its centrality, reinserting it differently in the urban network in northern of Paraná.

Key words: Urban Network, small cities; Assaí, metal-mechanics industry.
Introdução

As pequenas cidades passaram a ser recentemente redescobertas como fonte de pesquisas das diversas ciências humanas por conta de sua importância, significado e representação social, econômica e cultural no processo de urbanização brasileira. Sobretudo após a década de 1990, a conjuntura nacional de recessão forçou a indústria a passar por processos de reestruturação produtiva, afetando a economia brasileira, gerando profundas transformações na organização sócio-espacial brasileira. Tal processo refletiu essas mudanças na rede urbana, conferindo novos papéis às pequenas cidades, que segundo a lógica própria do capital, vem tornando-as local privilegiado da realização de uma parcela da produção propriamente dita, intensificando sua inserção na divisão territorial do trabalho.
Nesse contexto, discutiremos como a especialização produtiva no ramo metal-mecânico apresentado pela cidade de Assaí, vem dinamizando e reinserindo tal pequena cidade na rede urbana norte-paranaense e gerando intensas modificações sócio-econômicas e espaciais na mesma.
Tal discussão está dividia em três partes. Primeiramente abordaremos o conceito de rede urbana e as dimensões de análise das pequenas cidades a partir da mesma. Num segundo momento discutiremos o conceito de pequenas cidades e por fim, especialização industrial como forma de reinserção de Assaí na rede urbana norte-paranaense e elemento gerador de mudanças sócio-econômicas e espaciais da mesma.

Rede urbana e pequenas cidades: uma articulação pouco estudada

A rede urbana está intimamente relacionada aos processos de desenvolvimento do capital no espaço e sua constante necessidade de reprodução. Corrêa (1989) aponta que através das atividades comerciais diversas, parte do valor excedente gerado por juros, rendas e mais-valia é investido em novas atividades, com intuito de gerar mais valores excedentes. Para que isso aconteça é necessário a circulação desses valores e para que a mesma seja efetivada, deve haver vários pontos no território - os centros urbanos - onde ocorrerá “ tomada de decisão, a concentração, beneficiamento, armazenamento, transformação industrial, vendas no atacado e varejo, a prestação de uma gama cada vez maior e mais complexa de serviços” (CORRÊA, 1989, p.52). Nesse contexto, a rede urbana é a forma espacial através da qual se dá a criação, apropriação e circulação do valor excedente, onde cada cidade participa de algum modo deste processo.
Ainda segundo o autor, com o capitalismo as relações econômicas são ampliadas, passando a se realizar em amplos territórios e de diversos modos, ampliando também a divisão territorial do trabalho e podendo tornar os centros urbanos funcionalmente especializados. Em uma ampla rede urbana, os lugares podem ser reorganizados segundo os interesses do capital, tornando-se cada vez mais divididos (produção e consumo) e articulados (trocas entre produtores localizados em numerosos territórios). A partir disto, a rede urbana pode ser entendida como:

[...] o conjunto articulado de centros urbanos, constitui-se em um reflexo social, resultado de complexos processos engendrados por diversos agentes sociais. [...] Reflexo social, a rede urbana constitui-se também em uma condição social, uma matriz da qual deverá se verificar a reprodução das condições de existência, envolvendo a produção, a circulação e o consumo, assim como diversos aspectos das relações sociais (CORRÊA, 2001, p.361).

A rede urbana apresenta-se como um reflexo da e uma condição para a divisão territorial do trabalho. Um reflexo à medida que, na busca de minimização dos custos e maximização dos lucros, alguns centros estabelecem vantagens locacionais diferenciadas, resultando novos arranjos espaciais, fazendo com que haja assim a valorização de certas localizações em detrimento de outras. Reflete ainda a divisão territorial do trabalho por ser a mesma resultado da combinação de elementos próprios do modo de produção, expressando a sociedade ali instaurada (CORRÊA, 1989).
É através das funções articuladas das cidades – comércio atacadista e varejista, bancos, indústrias e serviços de transporte, armazenagem, contabilidade, educação, saúde e outros – que a rede urbana torna-se uma condição para a divisão territorial do trabalho.
Através dela torna-se viável a produção agropastoris e de mineração, assim como sua produção industrial, a circulação entre cidades e áreas e o consumo. É via rede urbana que o mundo pode tornar-se simultânea e desigualmente dividido e integrado (CORRÊA, 1989, p. 49-50).


Entendida também como a cristalização do processo de realização do ciclo do capital, a rede urbana é fundamental para o processo de acumulação capitalista e essa estreita relação entre ambos é que caracteriza a importância de seus estudos: compreender como a lógica capitalista vai alcançando e transformando os lugares de forma heterogênea, segundo seus interesses (maximização dos lucros), criando fluxos, dinamizando centros ou provocando o processo inverso (CORRÊA, 1989).
Para Corrêa (1997), o processo de acumulação capitalista fundamentado na produção industrial e no trabalho assalariado tem uma dimensão espacial, sendo um de seus lugares a rede urbana, elemento fundamental para o processo de acumulação capitalista ao viabilizar por meio das trocas comerciais e oferta de prestação de serviços, a extração da mais valia e dar continuidade do ciclo de produção e reprodução capitalista, refletindo e condicionando a sociedade em que está inserida.
Quanto a rede urbana do norte do Paraná, na qual Assaí está inserida, Fresca (2002), aponta cinco aspectos fundamentais para o entendimento da rede urbana norte-paranaense na atualidade:
O primeiro aspecto é a inserção da rede urbana na divisão territorial do trabalho mediante a produção agropecuária, resultado de uma diversidade produtiva gerada pela modernização da agricultura. Umas das expressões desta nova dinâmica são os complexos agroindustriais, submetidos à lógica de produção e reprodução do capital industrial, além da incorporação de áreas na rede destinadas ao binômio soja-trigo, produção sucro-alcooleira e pecuária, sendo que:

Para cada uma dessas produções instauradas diante da complexificação da divisão territorial do trabalho, relações econômico-sociais específicas foram desenvolvidas, como a inserção de áreas em nexos econômicos travados em escala internacional, através da comercialização de commodities, quer seja por uma estrutura cooperativa, por escritórios transnacionais ou mesmo por agroindústrias de capital nacional (FRESCA, 2004, p. 241).

O segundo aspecto são as implicações trazidas pelas alterações na dinâmica populacional, marcada pelo esvaziamento demográfico do campo e um gradativo aumento de urbanização para a rede em questão. Esse fenômeno explica-se pelo fato de que nos últimos anos o campo esteve “submetido a um maior conteúdo de ciência, tecnologia, capital, informação, etc. e por outras relações sociais de produção, o campo foi esvaziado demograficamente e, via êxodo rural, a população norte-paranaense teve como destino as cidades da rede ou áreas de fronteira agrícola” (FRESCA, 2004, p. 241).
O terceiro aspecto é a expansão da produção industrial nos centros da rede. Se na década de 60 as cidades da rede caracterizavam-se pela restrita produção industrial, no momento atual houve uma mudança significativa neste cenário, gerando inclusive cidades com especialização em determinadas produções industriais.
A expansão da produção industrial nas cidades da rede ocorreu a partir dos anos 70 e segundo Fresca (2009), está articulada a dois processos: o crescimento de uma produção previamente existente na área, de origem local e regional, resultado de ampliações em busca de nichos de mercados e aprimoramento técnico da produção e o segundo processo se deu por meio de transferências industriais de plantas, resultado do processo de desconcentração industrial vivido pelo país.
O quarto aspecto diz respeito à melhoria geral da circulação, enquanto etapa necessária entre produção, distribuição e consumo, ou seja, nas articulações da rede, a fim de garantir uma maior centralização do capital, há uma necessidade de redução do tempo de sua produção e reprodução, sendo necessários eficientes meios de transporte e comunicação, a fim de permitir “maior fluidez e flexibilidade na circulação de pessoas, mercadorias, capital, idéias, valores, etc.” (FRESCA, 2004, p. 245).
O último aspecto proposto de análise da rede é a possibilidade de cada cidade situar-se em pelo menos duas redes: uma delas é a rede de localidades centrais, fornecendo bens e serviços de primeira necessidade a população; e a segunda uma rede menos sistemática e irregular, por envolver inúmeras relações de integração interna e externa, articulado a outros papéis que o centro desempenha, únicos ou complementares em relação a outros centros e em diferentes escalas, desde o internacional ao nacional.
Em outras palavras, estes elementos são indicadores de que a rede urbana norte-paranaense tornou-se bastante complexa, evidenciado pelas distintas inserções dos centros na divisão territorial do trabalho e consequentemente uma maior diferenciação entre os centros em termos de funcionalidade. “Esta diferenciação encontra uma de suas transcrições nas distintas interações espaciais estabelecidas pelas cidades, sejam elas no âmbito interno ou externo à rede urbana norte paranaense” (FRESCA, 2002, p. 22).
A partir da compreensão do conceito de rede urbana, se faz necessário contextualizar as pequenas cidades e seu papel na mesma. Mas como definir uma pequena cidade de forma segura, em um país de dimensões continentais e diversidades regionais?
Partimos das proposições do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2000), que buscando um parâmetro para trabalhar todo o país, apesar de sua diversidade, adotou o critério populacional na classificação das cidades, apontando que são denominadas pequenas cidades os centros de população até 100.000 habitantes, cidades médias os centros entre 100.000 a 500.000 habitantes e grandes cidades os centros com população acima de 500.000 habitantes. Desta forma, das 5.507 cidades brasileiras recenseadas pelo IBGE no ano de 2000, 4.646 estavam classificadas como pequenas cidades. Já no Paraná, dos 399 municípios, 323 apresentam suas sedes como pequenas cidades.
Ainda quanto ao aspecto populacional, Santos (2005, p.79), ao analisar a urbanização brasileira propõe que “para ser cidade média, uma aglomeração deve ter população em torno de 100.000 habitantes”, indicando assim, que abaixo deste patamar, os núcleos urbanos existentes são as pequenas cidades. Contudo (FRESCA, 2001, p.29) ressalta que “uma cidade com cerca de 50.000 habitantes urbanos inseridos na rede urbanos norte-paranense diferencia-se muito de uma similar inserida, por exemplo, na rede urbana nordestina.”.
Santos (1989, p.29) também aponta que estatísticas internacionais definem o marco de 20.000 habitantes para se caracterizar uma pequena cidade, mas para o autor isso “não significa grande coisa, visto que um marco numérico é sempre artificial; os marcos reais são funcionais, isto porque só a partir de certo estágio de desenvolvimento e dinamismo é que a cidade se define”.
O autor transcende a análise das pequenas cidades, saltando classificações vinculadas ao número de habitantes e denomina as pequenas cidades como cidades locais, entendendo que o termo pequenas cidades induz à noção de volume da população. Para o autor, “o fenômeno urbano, abordado de um ponto de vista funcional, é antes de tudo um fenômeno qualitativo e apresenta certos aspectos morfológicos próprios a cada civilização” (SANTOS, 1979 p.70).
Para que uma aglomeração possa ser caracterizada como cidade, é necessário que exista “um limite mínimo de complexidade das atividades urbanas capazes, em um momento dado, de garantir ao mesmo tempo um crescimento auto-sustentado e um domínio territorial” (SANTOS, 1979 p.70). Uma aglomeração pode ser entendida como cidade a partir do momento que “passa a desenvolver atividades que não são agrícolas, mas vinculadas ao comércio e prestação de serviços” (VEIGA, 2007 p.27).
A cidade precisa satisfazer “as necessidades vitais mínimas reais ou criadas de toda uma população, função essa que implica em uma vida de relações” (SANTOS, 1979 p.71), sobretudo na satisfação de necessidades criadas externamente à comunidade.
O fenômeno da cidade local acha-se, pois, ligado às transformações do modelo de consumo no mundo, sob o impacto da modernização tecnológica, da mesma forma que as metrópoles são o resultado dos novos modelos de produção. [...] Todavia, só recentemente as cidades locais começaram a se difundir através do território. Deve-se procurar a causa disso na modernização tecnológica com ou sem industrialização. (SANTOS, 1979, p. 72-73)

A cidade local facilita o acesso da população aos bens e serviços, mesmo sendo mais caros que em centros maiores, e desempenham um importante papel junto às zonas de produção primária, por permitir um consumo mais próximo desta produção, gerando assim uma expansão da economia urbana.
Fresca (2001), também ressalta que para se caracterizar uma cidade como sendo pequena, é necessário entender sua inserção em uma dada rede urbana ou região. É necessário um “entendimento do contexto sócio-econômico de sua inserção como eixo norteador de sua caracterização como forma de evitarem equívocos e igualar cidades com populações similares, que em essência são distintas” (FRESCA, 2001, p.28).
Corrêa (2004), ao estudar as transformações econômicas, sociais e políticas sofridas pela rede urbana, em particular os pequenos núcleos a partir de década de 70, aponta que as transformações verificadas no campo alteraram o padrão desses pequenos lugares centrais, criando pelo menos quatro caminhos ao longo dos quais evoluíram: prósperos lugares centrais em áreas agrícolas pouco afetadas pela modernização; pequenos centros transformados em reservatório de força de trabalho; pequenos centros em áreas econômica e demograficamente esvaziadas por um processo migratório e pequenos centros especializados em atividades industriais.
Inserida no contexto dos pequenos centros especializados na produção industrial, emerge a cidade de Assaí, refuncionalizada a partir da década de 1990 por meio de transferências industriais angariadas pela Atlas Schindler (Metalúrgica Veipa, Veríssimo, Tecmarca, PTE) e reinvestimento dos lucros na expansão e modernização fabril, como é o caso da Tornotécnica Jumbo.

A cidade de Assai e a especialização industrial no ramo metal-mecânico.

Assaí foi fundada em 1934, e desde então apresentava sua economia voltada às atividades agrícolas. Após a década de 1970, profundas transformações na agropecuária, impuseram nova dinâmica produtiva: a modernização do campo, que fez com que as atividades agrícolas passassem a ser mecanizadas e novos insumos garantem maior produtividade. Tal dinâmica passa gerar pouca oferta de emprego, influenciando a vida da maioria da população que até então se concentrava no campo, lavando a cidade a entrar em uma espécie de letargia, onde o desenvolvimento econômico social se fez de modo tênue, marcada pelo desemprego e a retração do comércio e serviços.
Contudo, a partir dos anos de 1990 a cidade de Assai adentrou em uma nova etapa de seu desenvolvimento, a indústria metal-mecânica, que a partir da iniciativa local de alguns empresários, possibilitou a instalação de uma especialização industrial na cidade. A gênese da produção industrial se deu a partir da iniciativa de uma pequena empresa, a Tornotécnica Jumbo, fundada no período áureo do ciclo do algodão, oferecendo pequenos serviços de torno. A partir do reinvestimento dos lucros obtidos na própria empresa e empreendedorismo de seus administradores, a empresa destacou-se no setor, apresentando um alcance regional. Em 1998, com a transferência da Atlas Schindler de São Paulo a Londrina, aproveitando o nicho deixado pelo período de instalação e negociação com as demais fornecedoras, a empresa consegue tornar-se um das grandes fornecedoras desta multinacional, dando uma nova dimensão a sua produção, não exclusiva à Atlas, porém de grande importância para seu processo de desenvolvimento.
Alguns anos mais tarde outras indústrias metal-mecânicas, fornecedoras da Atlas, vêem-se obrigadas a transferir suas plantas próximas à nova unidade da Atlas, a fim de viabilizar a continuidade da parceria, imprescindível para o desenvolvimento de muitas destas fornecedoras. Neste contexto, por conta de ações dos gestores públicos da cidade, principalmente na oferta de vantagens locacionais, o município de Assaí recebe também transferências das plantas industriais da Metalúrgica Veipa (Rio de Janeiro), Veríssimo (Rio de Janeiro), Tecmarca (São Paulo), PTE (São Paulo) e GRC - Winner. Este processo beneficiou também a própria Tornotécnica Jumbo, que ao contrario das demais indústrias instaladas na cidade, continuou a re-investir seus lucros na expansão da produção industrial, possibilitando assim a recente inauguração uma nova unidade. Atualmente estão instaladas seis industriais metal-mecânicas na cidade:
Jumbo Indústria Mecânica Ltda.: Presente na cidade há mais de 30 anos, conta atualmente com aproximadamente 250 funcionários. Atua na área de usinagem de médio e grande porte, caldeiraria pesada, corte solda, montagem, jateamento, pintura e tratamento térmico de aço carbono, aço inox, alumínio e materiais ligados. Sua área de atendimento atinge os mais variados ramos da indústria: óleo, vegetal, química, plástico, curtume, usina de algodão, açúcar e álcool, papel celulose, siderurgia, cimento e usina hidrelétrica. Foi finalizada neste ano a Jumbo Super-pesada, uma nova instalação da própria empresa que irá produzir peças gigantes, como anéis para usina termonuclear com peso de 30 toneladas. Segundo declarações à imprensa, o faturamento anual estimado para esta nova empresa é de R$ 100 milhões e a expectativa é de contratar até 1,2 mil funcionários para esta unidade. Um dos irmãos proprietários da empresa, filho do fundador é o atual prefeito da cidade.
Metalúrgica Veipa Ltda.: Instalou-se em Assaí a menos de 10 anos, principalmente para atender um de seus maiores clientes, a Atlas-Schindler, localizada em Londrina (além de outros clientes importantes tais como Savera, Wittur, Wolkswagem, Dresser Wayne e outros). A empresa que conta com aproximadamente 150 funcionários, é especializada na produção de peças e componentes que demandem corte, dobra, solda e montagens mecânica e elétrica. O dono da empresa é um estrangeiro, porém influente personalidade na cidade.
Blank e Fonseca Ltda. (Veríssimo): Instalada há poucos anos na cidade, possui sua matriz localizada no Rio de Janeiro. É especializada em soluções logísticas para indústrias eletromecânicas. A filial assaiense conta com 100 funcionários e também possui a fabricante de elevadores Atlas-Schindler como principal cliente, além de outros em toda região sul e sudeste do Brasil, como os fabricantes de componentes para a indústria automobilística e máquinas de implementos agrícolas, além de eletrodomésticos e qualquer indústria eletromecânica com produção em série.
Tecmarca Indústria e Comércio Ltda.: Instalada na cidade desde 2005, possui 45 funcionários e é uma empresa especializada na produção de peças estampadas, conjuntos soldados e montados e serviços de prensa (estamparia). Seu principal cliente é também é Atlas-Schindler, porém as outras duas maiores metalúrgicas (Jumbo e Veipa) encomendam peças a esta unidade, além de outras empresas da região, como a Vitur de Cambé.
PTE (Perfilados Técnicos Estruturais): Instalada no mesmo pólo industrial onde da Tecmarca: barracões de uma antiga algodoeira (Assaimenka) da cidade, administrados pela Prefeitura Municipal. A PTE, estava instalada na cidade de São Bernardo do Campo - SP, e com a transferência da Atlas Schindler à Londrina, também se transferiu em Agosto de 2001 para Assaí, a fim de continuar sendo um dos fornecedores para a referida indústria. Especializada na fabricação de perfis/ perfilados (barras com diversos formatos) em aço carbono, inox e galvanizados para elevadores e escadas rolantes, conta com 17 funcionários na unidade.
Associada a esta dinâmica destaca-se uma gestão pública articulada aos interesses do setor industrial metal-mecânico, através da política de isenções fiscais, doação de terrenos, qualificação de mão-de-obra, dotação de infra-estrutura, que desde a década de 1990 adota medidas e políticas para fortalecer o setor e a economia local.
Estas medidas vêm provocando transformações econômicas, sociais e espaciais da cidade. Esta teve expansão física a partir da abertura de novos loteamentos; construção de conjuntos habitacionais e condomínios exclusivos; intensificação das atividades comerciais, marcada pela ampliação e especialização da oferta de bens, como transformação de lojas em magazines, abertura de filiais de lojas regionais, oferta de produtos mais exclusivos até então encontrados nos grandes centros.
A prestação de serviços também foi ampliada, com a abertura de clínicas médicas particulares ofertando especialidades médicas gerais, implantação de pólos de educação superior à distância (Universidade Aberta do Brasil e UNOPAR), implantação da defesa civil, posto de atendimento do INSS e escolas particulares.
Quanto a sua inserção na rede urbana norte-paranaense, Assaí apresenta-se agora com maior inserção na divisão territorial do trabalho mediante produção industrial, garantindo inserção em novas redes nacionais e internacionais, além do aumento sua centralidade estrutura reticular da qual faz parte. O relativo aumento de centralidade de Assaí em relação às outras cidades de seu entorno que não passam pela mesma dinâmica (São Sebastião da Amoreira, Nova Santa Bárbara, Santa Cecília, Uraí e outras).

Considerações finais

Intensas modificações na organização sócioespacial brasileira conferiram novos papéis às pequenas cidades no contexto da rede urbana, tornando-as “[...] lócus privilegiado da realização de uma parcela da produção propriamente dita; que permitem a inserção das mesmas em interações espaciais de grande alcance” (FRESCA, 2009, p. 41-42).
Tais modificações, entendidas a partir da análise do papel das pequenas cidades na rede urbana permite o entendimento dos processos ocorridos nas mesmas. Em Assaí, estes processos gerais associados a investimentos e iniciativas locais possibilitaram a instauração das unidades industriais, dando um novo sentido à vida da cidade, aumentando sua centralidade em relação às demais cidades de seu entorno, contribuindo para o aumento na oferta de bens diferenciados e atraindo novos serviços para atender a nova realidade instalada na cidade, sobretudo relacionada ao setor industrial.
O entendimento dessa dinâmica particular da cidade de Assaí, significa o entendimento da dinâmica atual das pequenas cidades inseridas dinamicamente nas redes urbanas e o entendimento do próprio processo nacional de urbanização e industrialização.


REFERÊNCIAS

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Fonte: http://www.agb.org.br/xvieng/anais/edp.php?orderBy=inscricoes.nome

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